Advirto-te
a suprimir a realidade. Tu, que ainda não te deparaste com a fantasia real em
que vives, suprime a realidade. O que está confinado pelos cinco sentidos é
facilmente manipulado pelo ser superior do teu ser. Se esse ser ainda não se
espelhou, advirto-te a suprimi-lo. Não questiones. Deduzo que, inevitavelmente,
pensas que a fantasia real em que vives é a realidade que deves suprimir e,
como tal, não deves proceder à supressão pela vaidade, implementada em qualquer
ser, que aprecia em expor o teu eu. Porém, o conhecimento do que constituí a
realidade até ela se espelhar não se instala em ti. O inconsciente que, por sua
vez, assenta em ti rodeado pelo espesso fumo que o encobrem demonstra-se
lentamente sem teres conhecimento de tal. O que ele te fornece é o consciente
que julgas ser a base, mesmo sendo apenas o cobertor, transparente por espelhar
à mesma o inconsciente.
Se a
realidade em ti assentiu, compreendes agora que o inconsciente é a realidade
enquanto o consciente é a fantasia real. Mas, se a realidade em nenhum de nós
se instalou, pois considero esta dolorosa sucessão de acontecimentos a minha
fantasia real, por pensar a realidade como algo muito mais ímpio, como temos
conhecimento dessa realidade? Como sabes tu, eu e o outro que a fantasia real
não é afinal a realidade mas como outro ser humano apenas dramatizamos,
tornando a realidade a fantasia real obscura? Como sabes se tanto a realidade
como a fantasia real não são meras fantasias desenvolvidas num sonho do qual
não acordarás? Como sabes se quando dormes e sonhas, não é quando realmente
estás acordado? Na realidade, como sabes que o teu “como sabes” significa o
mesmo “como sabes” que significa para mim? A resposta é previsível, o
inconsciente sabe. E, se o inconsciente é a realidade, a realidade sabe. E, se
a realidade sabe e já se expos, porque nos fez assim?
Se
atribuis o aparecimento das tuas felicidades àquele que designas como Deus,
porque não atribuis as tuas infelicidades também? Se sabes da sua existência,
não sabes a realidade, só pelo facto da realidade atribuir a ti a culpa de tudo
o que te acontece e não criar a fantasia real que determina a existência do
outro. E, se a realidade indefere a existência de Deus, o inconsciente fá-lo
também. Logo, estando consciente do não conhecimento do que constituí o teu
inconsciente, se alguma vez questionaste a existência de Deus é porque isso não
é real, visto que a realidade ou inconsciente não é consciente ou fantasia
real, e que a verdade da realidade nunca se espelhará para os demais seres
integrados na sua falta de inteligência por não se responsabilizarem pela
realidade brutalmente escondida pela fantasia real. Advirto-te, assim, a
suprimir a realidade visto que um dia o cobertor vai escorregar e decepcionado
o ser humano permanecerá. Ele não tem capacidade para superar e enfrentar a
realidade, ora não fosse essa a razão pela qual ela nunca se apresentou.
“and endless red tape to keep the truth confined”
muse
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