sábado, 28 de junho de 2014



Abafamento. Abafamento esse que entulha tudo o que não é necessário entulhar. Num movimento pendente pela lentidão do funcionamento daquele que pretende viver rápido – seus batimentos confirmam-no – deslizo sem o conhecimento, sem a certeza do próximo passo. Nesse passo prende-se tudo. O abafamento que entulha tudo, está lá entulhado também.
As pequenas, superficiais, mínimas e desnecessárias partículas da minha essência recusam a sair. Entulham-se. O passo é desejado mas não realizado. Apenas as transparentes conseguem sair. Escorrem, não em forma de alegria nem em forma de tristeza. Escorrem apenas. A necessidade de lhes atribuir um significado torna-se em algo abissal. Algo que supera, inclusive, o conteúdo da própria palavra algo. Não se sobrepõe ao entulho. Era preferível mas atulhar o entulho é algo, que não superior a algo, leva a pensar nesta coisa, mesmo no sentido literal da palavra por ser impossível a sua descrição, como uma baiuca.
Só na folha seguinte, aquando da viragem da página é que o alvéolo se apresenta. Engulo a seco. Torna-se amargo pela sua pequenez. Desdenho e reduzo a sua insignificância. Nunca uma brenha passará por lá. Num acto de revolta dou os últimos passos sem fôlego. Nenhum deles, nem todos amontoados, se comparam ao passo pretendido, ao passo nunca realizado. As partículas transparentes e salgadas juntam-se à imensidão de outras que unidas chegam à frente e voltam atrás para recuperarem. Nota-se que estão bravas. São enormes. Engolir-me-iam se estivesse no seu âmago. Duvido que engoliriam também o entulho. Esse permaneceria.
Tudo o que está abafado no passo preso que entulha o que o alvéolo não deixa passar e transforma em partículas culmina num arrepio. Quão era bom que nesse ou naqueles que se seguiram se desprenderia qualquer coisa entulhada? O pensamento convergia-se, pela força de vontade, num arrepio que expulsaria tudo. Tal acontecimento tornaria aquela coisa que qualquer um, rodeado pelos seus mistérios, problemas e felicidades, aprecia em designar como vida, muito mais fácil.
Mas, entretanto, sinto um peso a cair sobre os ombros escorrendo até onde termino. É pouco. O resto embarra em tudo o que existe ou pode existir onde me apoio, no conjunto de partículas granuladas de natureza mineral. O agasalho impede o entulho de sair. Na miserável tentativa de expulsar o que há muito não consegue sair há sempre algo que encobre. Um peso extra envolta-se em mim. Prende-me com aquela fechadura que com um toque apenas também se desmoronaria. Mas num sumptuoso silêncio compreendo porque tal fechadura nunca se abriu: não é aberta que a fechadura deixará passar o entulho. Fechada e bem trancada também não mas, desse modo, permitirá que o entulho, não reduza porque isso é impossível, mas se expanda em algo que passa a não ser, mesmo que por breves momentos, sentido. Em algo que as partículas da minha essência nunca quiseram sentir. Preferiram o desconhecido com o conhecido e perfeito ao lado.
Sinto o toque de mais partículas transparentes mas provém do exterior. São expulsas por aquele que teve a amabilidade de colocar o peso extra em mim. Sugam-se as palavras. A boca abre num movimento não racionalizado, como se a explicação fosse necessária de ser proferida. Porém nenhum som se entrelaça com os soluços constantes. Afinal, a tristeza e a alegria não adjectivam a razão do escorrer daquelas partículas que eram minhas mas tornaram-se nossas. Descubro que nem tu consegues explicar. Tu que sempre tiveste o argumento que sempre me calou. Tu que me embrulhas com esses largos e fortes membros que por mim já percorreram.
Questiono-me porque não és tu em vez dele. Questiono-me e chego a uma simples conclusão: porque tu soubeste ser simples no início, porque tu não te apresentaste como um jogador, não me tomaste como um passatempo. Apresentaste-te como um todo e não com diversas e codificadas peças que formaram o todo que no fim se despedaçou com um simples toque. Porque na realidade tu não fizeste a coisa errada com a pessoa certa, tu experimentas-te a coisa errada que me fez compreender que não eras a pessoa certa.
E tudo termina como todas as manhãs de dois dias perfeitos. Com a sensação dos teus que já tiveram nos meus mas que agora estão na superfície por onde já escorregaram as minhas partículas e por fim, com todo o teu peso sobre mim e sobre o entulho que nem após esta nem outra luta apagar-se-á.

domingo, 8 de junho de 2014


  Não é costume meu publicar algo que dite tão linearmente o que corre [ocorre]. Não é costume meu o mostrar, sequer. Aqui, consigo ser mais eu que na realidade. Demonstro, pouco a pouco ou abruptamente, o que se passa, sem, no entanto, dizer nada em específico. O problema que encaro agora é outro: não me é possível falar sobre ele, de todo. Chama-lhe protecção [alheia, veja-se], chama-lhe vergonha. Chama-lhe o que quiseres mas isto, eu portanto, é um poço - de água preenchido, não pela chuva que colho, mas pelas lágrimas que derramo - que enche, lentamente devido à sua profundidade, mas quando aquele momento chegar, não garanto o que saiba o que de lá..ora.. Assim sendo, não me responsabilizo por nada. Mas deixa, deixa-o encher e verás.

quinta-feira, 5 de junho de 2014


Devaneios antagónicos.
Sabores amargos,
Pensamentos eloquentes.

Metamorfose. Silêncio,
Com barulhos preenchidos.

Foge.
Enquanto podes,
Ama.

Mas...