quinta-feira, 10 de outubro de 2013



    A convicção de que foi um lapso no tempo não se alui de mim. Permanece erguida, intacta, como se de uma verdade se tratasse. Presumo, entre o tempo do tempo em que vejo claramente o que te envolveu, que nada será isto sem ser eu [sem seres tu?]. 
    A vagueza dos pensamentos que te concernem não me permitem usufruir o quotidiano. Embora tivesse assente que a tua falta nunca seria preenchida por algo, empreguei um ser menos frio, mais afável, como forma de me veres, assim, com tanto de ti... Porém, hoje, passado um ano e sete meses, a força erguida neste tempo do tempo percorrido durante pouco mais que meio ano, diluiu, como se tratasse de um medicamento incapaz de curar - o organismo já se avezou.
    E assim, este dia será inevitavelmente mais um..mais um daqueles plenamente sorridente mas impiamente sofrido, longe das amarras da felicidade... Isto, se algum dia ela se instalou depois da tua partida, há um ano e sete meses, um ano e sete meses Tio.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Advirto-te a suprimir a realidade. Tu, que ainda não te deparaste com a fantasia real em que vives, suprime a realidade. O que está confinado pelos cinco sentidos é facilmente manipulado pelo ser superior do teu ser. Se esse ser ainda não se espelhou, advirto-te a suprimi-lo. Não questiones. Deduzo que, inevitavelmente, pensas que a fantasia real em que vives é a realidade que deves suprimir e, como tal, não deves proceder à supressão pela vaidade, implementada em qualquer ser, que aprecia em expor o teu eu. Porém, o conhecimento do que constituí a realidade até ela se espelhar não se instala em ti. O inconsciente que, por sua vez, assenta em ti rodeado pelo espesso fumo que o encobrem demonstra-se lentamente sem teres conhecimento de tal. O que ele te fornece é o consciente que julgas ser a base, mesmo sendo apenas o cobertor, transparente por espelhar à mesma o inconsciente.
Se a realidade em ti assentiu, compreendes agora que o inconsciente é a realidade enquanto o consciente é a fantasia real. Mas, se a realidade em nenhum de nós se instalou, pois considero esta dolorosa sucessão de acontecimentos a minha fantasia real, por pensar a realidade como algo muito mais ímpio, como temos conhecimento dessa realidade? Como sabes tu, eu e o outro que a fantasia real não é afinal a realidade mas como outro ser humano apenas dramatizamos, tornando a realidade a fantasia real obscura? Como sabes se tanto a realidade como a fantasia real não são meras fantasias desenvolvidas num sonho do qual não acordarás? Como sabes se quando dormes e sonhas, não é quando realmente estás acordado? Na realidade, como sabes que o teu “como sabes” significa o mesmo “como sabes” que significa para mim? A resposta é previsível, o inconsciente sabe. E, se o inconsciente é a realidade, a realidade sabe. E, se a realidade sabe e já se expos, porque nos fez assim?
Se atribuis o aparecimento das tuas felicidades àquele que designas como Deus, porque não atribuis as tuas infelicidades também? Se sabes da sua existência, não sabes a realidade, só pelo facto da realidade atribuir a ti a culpa de tudo o que te acontece e não criar a fantasia real que determina a existência do outro. E, se a realidade indefere a existência de Deus, o inconsciente fá-lo também. Logo, estando consciente do não conhecimento do que constituí o teu inconsciente, se alguma vez questionaste a existência de Deus é porque isso não é real, visto que a realidade ou inconsciente não é consciente ou fantasia real, e que a verdade da realidade nunca se espelhará para os demais seres integrados na sua falta de inteligência por não se responsabilizarem pela realidade brutalmente escondida pela fantasia real. Advirto-te, assim, a suprimir a realidade visto que um dia o cobertor vai escorregar e decepcionado o ser humano permanecerá. Ele não tem capacidade para superar e enfrentar a realidade, ora não fosse essa a razão pela qual ela nunca se apresentou.



“and endless red tape to keep the truth confined”
muse

quarta-feira, 2 de outubro de 2013



Adeus.
Adeus a ti,
Ser que não sabe o que é adeus,
Adeus.

Descubro uma nova palavra.
Entre ventos e memórias
Soube-me a passado,
Aquela felicidade,
Eternamente longínqua.

Deslumbro-a.
Tento alcança-la e escorrego.
E mais uma vez
É mítica.

Revivo a palavra.
Emerjo do nada,
Onde cabe tudo.
Tudo esse preenchido por nada
Do que eu sinto,
Oh se sinto!
Afinal não há nada.

Adeus.
Adeus a ti,
Ser que não sabe o que é adeus,
Adeus.

terça-feira, 1 de outubro de 2013




   Fechei os olhos. Era a típica hora agitada. Por breves momentos, quis-me isolar. Não que não sentisse saudades de cada um com quem estive - de ti especialmente. Porém, esta ânsia geral esvazia-me. Todo este frenesi à volta do regresso parcial assusta-me e, esse sim, afasta-me. Quero-me encontrar, longe de todos, até de mim. Independentemente disso, espelho a necessidade de vos ter comigo. São como pilares indestrutíveis... e, parecendo que não, agradeço profundamente essa devoção, o pior é conciliar o pouco tempo que me disponibilizam para poder estar com cada um e, mesmo assim, poder estar comigo.
   A Marta daqui difere da Marta de lá. Qual delas a mais revoltada, a mais descontraída, a mais sincera, a mais feliz? O objectivo era, portanto, permanecer acordada ainda que todos pensassem que estava a dormir. O objectivo era pensar. O objectivo era descodificar a mixórdia de sentimentos que por mim passaram só neste fim-de-semana. Num ápice descubro tudo o que fiz de mal, tudo o que preferia não ter feito e tudo que me orgulho de ter feito: a surpresa que te fiz correu dentro de mim como corre o sangue, era algo por que ansiava, tinha saudades tuas ainda que não admita; a despedida do outro foi definitiva, chegamos ao patamar da amizade? "talvez direi, mas cuidado terei", afinal, tu mesmo disseste para me cuidar; por fim, questiono-me da despedida do outro outro, quão sentida foi por ambas as partes? quão mal me senti? a verdade é que não te sou indiferente, caso contrário não quererias estar comigo nos restantes dias, dias esses que já estavam preenchidos [novamente, o passar do tempo sume-se como se nem tempo tivesse para ver o tempo passar]...
   A disputa mental manteve-se até que algo seriamente reconfortante me embrulha no seu calor: chegaste. Tu que tens ciúmes do nosso irmão, do quão ele é importante, nunca pensaste que és o meu ídolo? Talvez seja uma palavra que te imponha demasiado autoridade [quem somos nós sem os nossos pequenos desentendimentos?] pois penso que idolatrar alguém é impossível dado nunca conhecermos o seu verdadeiro eu.. Contudo, se há alguém que se aproxima desse ser mítico, esse serás tu Miguel. É raro dar nome às pessoas a que me refiro mas tu mereces um certo destaque - sei que não vais ler isto mas ainda assim esclareço o quão importante és mesmo que não o diga pessoalmente, isso exigiria de mim o que nunca ninguém recebeu [mereceu?].
   Permaneço intacta, como a pedir mais de ti, pedido passivo directamente sentido. Dás-me o melhor de ti e questiono o porquê de não te dar tudo o que tenho em mim.. Sinto que te desiludo, mas ao mesmo tempo orgulho-me de ter muito de ti. E isso vejo, não agora que já "acordei", mas todos os dias em que estamos afastados. Não te afastes, fica, eu preciso de ti, ajudaste-me agora a compreender: sou mais feliz aqui, contigo, com os pais e o mano, com eles [...mas e ele?]. A Marta daqui é muito mais feliz que a Marta de lá, ainda que quer a Marta daqui quer a de lá seja feliz. Mesmo rodeados de quimeras, os pilares mantém-se ano após ano e, como tal, a felicidade exibe-se, mas só para mim... é segredo!