quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Advirto-te a suprimir a realidade. Tu, que ainda não te deparaste com a fantasia real em que vives, suprime a realidade. O que está confinado pelos cinco sentidos é facilmente manipulado pelo ser superior do teu ser. Se esse ser ainda não se espelhou, advirto-te a suprimi-lo. Não questiones. Deduzo que, inevitavelmente, pensas que a fantasia real em que vives é a realidade que deves suprimir e, como tal, não deves proceder à supressão pela vaidade, implementada em qualquer ser, que aprecia em expor o teu eu. Porém, o conhecimento do que constituí a realidade até ela se espelhar não se instala em ti. O inconsciente que, por sua vez, assenta em ti rodeado pelo espesso fumo que o encobrem demonstra-se lentamente sem teres conhecimento de tal. O que ele te fornece é o consciente que julgas ser a base, mesmo sendo apenas o cobertor, transparente por espelhar à mesma o inconsciente.
Se a realidade em ti assentiu, compreendes agora que o inconsciente é a realidade enquanto o consciente é a fantasia real. Mas, se a realidade em nenhum de nós se instalou, pois considero esta dolorosa sucessão de acontecimentos a minha fantasia real, por pensar a realidade como algo muito mais ímpio, como temos conhecimento dessa realidade? Como sabes tu, eu e o outro que a fantasia real não é afinal a realidade mas como outro ser humano apenas dramatizamos, tornando a realidade a fantasia real obscura? Como sabes se tanto a realidade como a fantasia real não são meras fantasias desenvolvidas num sonho do qual não acordarás? Como sabes se quando dormes e sonhas, não é quando realmente estás acordado? Na realidade, como sabes que o teu “como sabes” significa o mesmo “como sabes” que significa para mim? A resposta é previsível, o inconsciente sabe. E, se o inconsciente é a realidade, a realidade sabe. E, se a realidade sabe e já se expos, porque nos fez assim?
Se atribuis o aparecimento das tuas felicidades àquele que designas como Deus, porque não atribuis as tuas infelicidades também? Se sabes da sua existência, não sabes a realidade, só pelo facto da realidade atribuir a ti a culpa de tudo o que te acontece e não criar a fantasia real que determina a existência do outro. E, se a realidade indefere a existência de Deus, o inconsciente fá-lo também. Logo, estando consciente do não conhecimento do que constituí o teu inconsciente, se alguma vez questionaste a existência de Deus é porque isso não é real, visto que a realidade ou inconsciente não é consciente ou fantasia real, e que a verdade da realidade nunca se espelhará para os demais seres integrados na sua falta de inteligência por não se responsabilizarem pela realidade brutalmente escondida pela fantasia real. Advirto-te, assim, a suprimir a realidade visto que um dia o cobertor vai escorregar e decepcionado o ser humano permanecerá. Ele não tem capacidade para superar e enfrentar a realidade, ora não fosse essa a razão pela qual ela nunca se apresentou.



“and endless red tape to keep the truth confined”
muse

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